"Exmo Senhor
Conde de Abranhos, agradeço que publique o meu artigo de opinião no seu espaço da blogoesfera, com o pseudónimo de - Lobo do Mar.
Cumprimentos "
Para que serve um Presidente de Câmara?
O Porto da Figueira da Foz foi sempre considerado uma infraestrutura de risco. Com as obras do prolongamento dos molhos, em vez do risco diminuir, como todos esperávamos, infelizmente, o risco aumentou de forma trágica. Antes das obras se iniciarem, muitas foram as vozes que se levantaram contra o projeto proposto. Estas vozes não foram escutadas, pelas diversas autoridades com responsabilidade nesta matéria. Atrevo-me a dizer, que houve sempre a tentativa de as silenciar de forma subtil e matreira.
Temos vindo assistir nos últimos tempos a vários naufrágios de embarcações de diversas tipologias, com vítimas mortais. A tragédia que a Figueira acaba de viver com o naufrágio do arrastão Olívia Ribau, leva-me a mim e certamente muitos figueirenses a colocar algumas questões. Começo por perguntar - quantas pessoas mais vão ter que morrer no Porto da Figueira, para quem de direito tome uma iniciativa séria de forma a resolver o grave e complexo problema em que se tornou a barra da Figueira? Quem são as autoridades com responsabilidades para resolver esta situação? A culpa do último acidente é apenas e exclusivamente do comandante do Porto? Será do Ministério da Defesa que não dá os meios adequados de socorro? Ou do Ministério das Obras Públicas e dos Transportes, que através dos seus órgãos desconcentrados, nomeadamente da Administração dos Portos não arranjou uma solução atempada para reduzir o risco desta infraestrutura fundamental para o desenvolvimento económico do concelho, da região e consequentemente do país? Ou ainda, a culpa será do Ministério das finanças que não disponibilizou verbas para as respetivas entidades desempenharem cabalmente as suas competências. Pois, são tantas as entidades e nenhuma é responsável – assistimos ao normal e habitual passa culpas, e como sempre a culpa morre solteira!
No meio desta história trágica, temos um herói. Na tragédia existe sempre um herói. Felizmente, este herói saiu com vida, depois de resgatar dois pescadores sobreviventes e uma vítima já cadáver, apenas com uma moto de água. O herói de que vos falo é conhecido pela alcunha de “Chapas” (Carlos Santos) - agente da Polícia Marítima. Estamos todos gratos ao “Chapas” pelo seu gesto de abnegação, coragem, e determinação. Este Homem merece um forte Bem haja. Contudo, e sem querem diminuir em nada a nobreza do ato deste agente, não posso deixar de falar do seu colega, também ele agente da policia marítima, também ele herói, que no cumprimento do seu dever, num outro naufrágio, acabou por ser vítima mortal. Nas tragédias, nós preferimos sempre heróis que saiam com vida no final da história. Mas, o que nós, figueirenses, cidadãos preferimos e pretendemos é não ter a necessidade de haver mais heróis decorrentes de tragédias provocadas pela incúria e a inércia dos verdadeiros culpados que se escondem no biombo do passa culpas.
Ontem houve uma grande manifestação silenciosa de pesar e de protesto, em frente à capitania do Porto. Foi um grito de Silêncio ensurdecedor de revolta, para dizer – basta! É de enaltecer o gesto de quem teve a iniciativa (o jovem Traveira), bem como enaltecer quem participou neste acto simbólico. Mas, não posso deixar de dizer, que independentemente da responsabilidade que deve ser pedida ao Comandante do Porto, existem outras entidades com tanta ou mais responsabilidade nesta e nas outras tragédias que têm ocorrido na traiçoeira barra da Figueira.
Ontem, ficámos a saber que o Exmo. Senhor Presidente da Câmara decretou 3 dias de luto Municipal. Será que o edil figueirense, no final do mandato do atual Comandante da Capitania vai condecorá-lo com uma medalha de mérito, há semelhança do que já fez no passado com o anterior capitão do Porto? Ontem também ficámos a saber para que serve um Presidente de Câmara: - Para decretar Luto Municipal e atribuir medalhas de mérito, preferencialmente a título póstumo!
“Lobo Do Mar”